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\"Que o meu sorriso seja o meu legado\"

O tempo é um bem precioso que desperdicei durante mais de quatro décadas até perceber que ninguém é eterno e que as melhores coisas da vida são gratuitas. Entre elas contam-se um dia de sol; o cheiro a relva acabada de cortar; ouvir música enquanto faço longas caminhadas; passear à beira-mar e sentir o cheiro da maresia; o cheiro a terra molhada... a lista é infinita.


Talvez seja por isso que vejo poesia em quase todo lado. O sorriso de uma criança faz-me sentir vontade de voltar a querer ter uns dedos rechonchudos a apertarem os meus. As nuvens que formam imagens na imensa tela do céu fazem-me pensar em naves espaciais e em seres de outros mundos, curiosos por aprenderem mais sobre a vida neste lindo planeta. As árvores que ondulam ao vento transportam-me para um maravilhoso mundo subaquático e mudo habitado por peixes que brilham e animais brincalhões que falam através do olhar. Como vês, sou uma rapariga de gostos simples.


Acredito que a minha simplicidade reflete a pessoa que sou e que o meu sorriso será o meu legado. Vou contar-te um episódio que aconteceu há cerca de 15 anos. Certo dia, fui ao tribunal pedir uma qualquer certidão. Preenchi o formulário exigido, aguardei os dias que levariam a tratar do meu documento e regressei ao tribunal. O mesmo funcionário que me tinha atendido antes, quando me viu nem me deu tempo de eu dizer ao que ia e disse o meu nome. “Que memória fantástica!”, disse eu e foi aí que ele respondeu que me tinha reconhecido pelo sorriso. Foi das coisas mais bonitas que já me disseram até hoje e ele disse-o com uma ingenuidade infantil. Dava para ver nos seus olhos.


Costumo dizer que gosto de quem gosta de mim e faço por colocar generosidade e simpatia em tudo o que digo e faço. Apenas uma vez, em mais de 25 anos de carreira docente, estive numa escola onde existia uma professora com o meu nome. “Lucinda” é um nome arcaico, e que tende a desaparecer, que herdei da minha avó e madrinha. Mesmo não sendo o mais bonito dos nomes, não o trocaria por nenhum outro porque nele estão gravadas a minha essência e a minha história. Dizia eu que apenas uma vez tive uma colega que se chamava Lucinda. Um dia, numa conversa com uma assistente operacional, fiquei a saber eu era conhecida como a professora “Lucinda, a simpática”. Que belo cognome! Era assim que nos distinguiam e é assim que eu gosto de ser reconhecida.


Conheces o filme francês “O fabuloso destino de Amélie Poulain”? Conta a história de uma jovem que um dia decidiu assumir a missão de fazer os outros felizes e -claro está!- acabou por ela própria encontrar a felicidade e o amor. Aconselho vivamente que vejam até porque não existe nada de mais satisfatório do que melhorar o dia de alguém. Há tanta gente infeliz...


Com os meus textos é isso que eu pretendo: abrir sorrisos, dispersar nuvens negras e povoar-te de bons pensamentos. Espero que gostes desta minha reflexão e convido-te a ler o meu poema “Quando eu morrer”, escrito há um ano e que empresta o título a este texto.


Aguardo o teu comentário.

Quando eu morrer


Quando eu morrer,

Não quero homenagens, nem flores,

Nem estátuas, nem ruas com o meu nome,

Cerimónias que apenas celebram os vivos

Porque os mortos já não se importam

Com essas futilidades.

Quero perpetuar-me na memória

Daqueles que comigo se cruzaram

E que o meu sorriso seja o meu legado.


Quero partir com a leveza

Com que a folha se desprende da árvore

E que sempre soube que essa ténue ligação

Um dia chegaria ao fim.

Quero chegar ao outro mundo feita sombra desprendida,

Esvoaçante névoa dispersa pela brisa.

Quero sentir o deslumbre de me libertar

De uma vida cheia de arrependimentos,

Mas também de grandes conquistas

Principalmente contra o meu pior inimigo:

EU.


Quando eu morrer,

Quero ser cremada

Para que as minhas cinzas,

Lançadas do alto da montanha,

Tenham a liberdade que nunca tive.

Serei Fénix renascida,

Mais brilhante do que nunca!


Quando o meu corpo finalmente sucumbir

Ao peso da idade ou da doença

(ou por cansaço somente),

Partirei com a tranquilidade de quem sabe

Que estarás à minha espera,

Com a mesma inevitabilidade

Com que o mar aguarda o rio

E o acolhe no seu seio.

Lucinda Cunha

O que dizem os leitores:



Lucinda Cunha

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