“Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.”
(Sebastião da Gama)
Durante um fim de semana de praia, decidi ler um livro que não é indicado para a minha faixa etária, que vou a caminho dos 49 anos. Decidi pegar no livro Os sonhadores de António Mota e acabou por ser uma leitura comovente e surpreendente.
Os sonhadores conta a história de dois amigos -Hermenegildo, ou Gilo, e o Sousa - que, quando eram crianças, partilhavam o sonho de serem escritores. Contudo, a vida tinha outros planos e os amigos separaram-se, mantendo o contacto, até que se reencontram, já adultos. Ambos haviam seguido carreiras que nada tinham a ver com o seu desejo de se dedicarem à escrita.
Ora, durante uma visita do Sousa a Gilo, casado com Adelaide, o seu primeiro amor, este entrega ao amigo um manuscrito (que desvaloriza e que considera ter pouca qualidade). Sousa, sem dizer nada ao amigo, embrenhado na leitura daquele texto, que é autobiográfico e que ele considera de grande qualidade, decide datilografá-lo para que Gilo possa enviá-lo a uma editora e tentar a sua publicação. Mas quando o sonho da publicação estava já tão perto, algo de inesperado acontece, provando que nada na vida é garantido.
Assim, numa narrativa dentro da narrativa, temos um narrador em primeira pessoa, Gilo, que nos conta a sua infância sem a presença do pai que -percebemos mais tarde-também correu atrás do seu sonho, não hesitando em abandonar a família.
Perante o leitor, desfila uma série de personagens que habitam o Plameiro e que foram uma presença constante e determinante na vida do narrador, como o avô Zeferino, o Guilhermino Bicho, a D. Rosinha Pinta ou o Zé Carlos. Todas as personagens perseguem sonhos muito diferentes, mas igualmente válidos.
Gilo vai contando a sua vida e o modo como se cruza com os outros habitantes do Plameiro, através da sua perspetiva de criança e com a ingenuidade e a pureza que as caracteriza. Vamos lendo sobre a infância difícil, o abandono da escola para ajudar a mãe e a avó a tratarem das terras e dos animais, o trabalho como ajudante de sapateiro e o regresso à escola e o que ela significa em termos de novas oportunidades e cumprimento de sonhos.
Todos podemos rever-nos em Os sonhadores, de António Mota. Todos somos sonhadores e o que nos distingue é que, enquanto uns arriscam tudo para concretizarem os seus desejos e ambições, outros desistem deles, por medo ou por se acomodarem à estabilidade da vida que têm.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
20-2-1933
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).
Para Fernando Pessoa, o que distingue o Homem dos outros animais é a nossa capacidade para sonharmos com aquilo que nos faria mais felizes e realizados. Mesmo que esse sonho possa ser confundido com loucura ou insensatez, mesmo que os outros não nos compreendam, mesmo que o interpretem como um desvario ou uma ilusão passageira, não devemos deixar-nos amarrar pelos preconceitos da sociedade pois só seremos verdadeiramente felizes se lutarmos por aquilo que nos fará felizes.
Para uns, o seu sonho será conseguir realização profissional, reconhecimento por parte dos seu chefe, ou uma promoção. Para outros, a felicidade consistirá em constituir família. Outros sonharão com dinheiro, glamour, fama e sucesso. Todos estes desejos são igualmente válidos.
No meu caso, o meu sonho é tornar-me escritora profissional. É tocar os outros com os meus escritos. É fazer a diferença e tornar felizes aqueles que me leem. É criar uma rede de leitores fieis que amam os meus textos e que se identifiquem com os assuntos abordados e com as personagens que os povoam. Que são felizes quando leem os meus textos. Que sabem que podem contar comigo e com os meus textos sempre que se sentirem alegres ou tristes; realizados ou frustrados; criativos ou passivos.
E tu? Qual é o teu sonho?
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"Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade."
SOBRE
Sou escritora e também professora. Amo escrever e ensinar!