O rapaz do gueto de Varsóvia, da alemã Eva Weaver, não é só mais um livro sobre o Holocausto. É um livro que conta uma história baseada em factos reais e que nos mostra a perspetiva de um rapaz que sofreu na pele as atrocidades cometidas por um exército comandado por um megalómano louco. Porém, a autora mostra, também, o ponto de vista daqueles soldados alemães que se viram envolvidos na teia que foi o nazismo e que depois da guerra sofreram às mãos dos russos.
Ao percorrermos as páginas deste emocionante livro, ficamos a saber como os judeus polacos foram enfiados em guetos, como animais enclausurados, sem quaisquer direitos, nem mesmo o de chorar os seus mortos. Percebemos que o amor tem várias formas e que pode assumir a de uma sopa aguada, de um pedaço de pão bolorento ou de um simples fantoche.
Mika é um adolescente que, quando o avô morre, assassinado pelos nazis numa rua do gueto, herda o seu enorme casaco. Aos poucos, vai descobrindo os vários bolsos secretos, que estão cheios de surpresas e de pequenos tesouros. Num deles, Mika descobre a cabeça de um fantoche e decide continuar a paixão do avô. Começa a fazer pequenas peças de teatro de fantoches, com a ajuda de uma prima que, entretanto, se refugia em sua casa com a mãe e a irmã. Ambos irão levar felicidade a centenas de crianças órfãs e famintas que sobrevivem num orfanato do gueto e a todos aqueles que precisarem de alguma alegria, ainda que passageira.
Numa das suas saídas, Mika é apanhado por um soldado alemão - Max - que lhe exige que, semanalmente, compareça junto dos soldados nazis para fazer um espetáculo, recebendo em troca um valioso pão. A partir daí, os fantoches vão desempenhar um papel importante na resistência polaca. Além de esperança e conforto, os espetáculos de fantoches de Mika e o seu casaco vão proporcionar a libertação e fuga de algumas crianças judias que, assim, podem escapar do terror nazi.
Num outro capítulo, é-nos contada a história de Max que, no final da guerra, foi capturado por soldados russos e levado para a Sibéria, onde sofre horrores, tal como os judeus. O leitor dá por si a sentir compaixão por aqueles homens que fizeram parte da máquina monstruosa que foi o domínio ariano. Também Max encontrará esperança e conforto num fantoche oferecido por Mika.
Este livro não poderá deixar ninguém indiferente, muito menos os jovens, a quem eu aconselho, vivamente, este livro. É impossível que não desperte no leitor solidariedade por aqueles que passaram anos sob a ocupação alemã, em desespero, cheios de fome e de medo e fez-me perguntar, vezes sem conta, como pode o ser humano capaz de tantas atrocidades. Com a guerra na Europa, tão perto de nós, temos, forçosamente, de fazer uma profunda reflexão sobre o nosso papel no mundo e como poderemos tornar o nosso próximo mais feliz.
SOBRE
Sou escritora e também professora. Amo escrever e ensinar!