O que é o medo?

No meu poema “Medusa” (que podes ler aqui) transfigurei o medo num monstro mitológico. A Medusa é, na mitologia clássica, um dos monstros mais temidos, mas até ela foi vencida e decapitada por quem venceu o medo, e conseguiu enfrentá-la, ainda que sem a encarar.


Mas o que é o medo?


O medo é uma espécie de íman que nos prende ao chão e que não nos deixa saltar demasiado alto, com a desculpa de que é para o nosso bem. Impede-nos de voar e de desbravar caminho. Faz-nos criar raízes onde a terra é tão árida que não existe água para nos matar a sede e, mesmo assim, continuamos a querer cultivar naquele deserto.


É o medo que nos prende os movimentos e nos arrepia os cabelos. É uma mão contra o nosso peito que nos encosta à parede e quase esmaga o nosso coração.


O medo é como um domador circense que nos obriga a fazer habilidades para recebermos os sorrisos e os aplausos dos outros: da família, dos amigos, dos colegas, da sociedade. O medo controla-nos, tal como um conjunto de comprimidos nos impede de nos atirarmos de uma ponte. O medo é um ditador sem rosto, que não se vê, mas que povoa os nossos pesadelos.


O medo é uma espada sobre a nossa cabeça. Como Démocles, somos condenados a carregá-la para sempre. É ele que não nos permite deixar de ser crianças indefesas que precisam da aprovação dos outros para serem felizes. É o medo que nos impede de sermos felizes e de encontrarmos o verdadeiro amor. Falo, sobretudo, do amor próprio.


O medo não gosta de te ver arriscar e petrifica aqueles que ousam procurar a felicidade das maneiras menos convencionais: aqueles que deixam um emprego estável para perseguir um sonho ou aqueles que não saem de uma relação infeliz por se terem acomodado. Aqueles que não revelam quem verdadeiramente são porque isso provocaria ódio e solidão. O medo é irmão do conformismo.


Perseguir a felicidade tornou-se um luxo próprio dos destemidos. Eu sei do que falo porque o medo vive comigo. Sinto, muitas vezes, a sua presença: deita-se comigo na minha cama, respira no meu ouvido e provoca-me arrepios pela coluna abaixo.


Eu vejo o medo na figura da Medusa, uma mulher horrenda, amarga, com terríveis poderes mágicos, porque o medo nos transforma em penedos sem vontade própria e sem esperança no futuro, mas até ela foi derrotada. Apesar do medo, que me prende os braços, me ata as pernas e me amordaça, quando eu não posso correr, caminho. Quando não consigo gritar, sussurro. É verdade que Ícaro voou demasiado alto e que isso foi a sua perdição. Só que ele voou, mesmo por pouco tempo. Quem pode vangloriar-se disso? O que eu não daria para poder voar até bem perto do sol!



Lucinda Cunha

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