A menina que queria ser professora

Descobri que queria ser professora quando andava na primeira classe. Era assim que se dizia - primeira classe e não primeiro ano.

Com 5 anos (faço anos no final de novembro), já conhecia o alfabeto todo e os números até 20, que a minha mãe me tinha ensinado durante o verão. Viu que eu estava recetiva à aprendizagem e não se fez de rogada. Talvez herde a minha vocação dela.


Na escola aprendi a juntar as letras para criar palavras e a juntar palavras para criar frases. Percebi que os números podiam ser adicionados, subtraídos, divididos ou multiplicados e tudo parecia tão fácil que não percebia porque é que os meus colegas demoravam tanto tempo a realizar certas tarefas que me pareciam tão simples e que eu fazia "enquanto o diabo esfregava um olho". Acho até que ele ainda não tinha acabado de o esfregar, já eu estava sem nada para fazer, o que era muito aborrecido. Então, um dia levantei-me sem pedir licença e percorri a sala a ajudar os meus colegas tal como a minha professora fazia. Será escusado dizer que me chamou à atenção e me mandou sentar no meu lugar, ao que eu respondi com um triste "Mas eles não sabem...", na certeza de que o que estava a fazer era o mais correto. Sempre fui assim: gosto mesmo de ajudar os outros.


Nessa vez em que me levantei para prestar apoio aos meus colegas, eu percebi que o ensino era uma paixão e soube, sem qualquer dúvida, que queria ser professora. Só não sabia de quê porque não tinha noção do que eram áreas do conhecimento, mas nunca quis ser outra coisa, até descobrir a leitura.


Lembro-me muito bem do primeiro livro que li. Chamava-se Os sótãos furados, de Maria do Carmo Almeida. Conta a história de um conjunto de casas geminadas ligadas por sótãos nos quais as crianças tinham aberto portas que ligavam umas casas às outras. Foi com esse livro que a minha imaginação desabrochou. A partir daí, comecei a ler o que me aparecia pela frente, principalmente bandas desenhadas do tio Patinhas, como eu e o meu irmão Nuno (3 anos mais novo que eu) lhes chamávamos e que os meus tios Luís e Fátima nos ofereciam de cada vez que nos visitavam. Depois vieram as aventuras dos gauleses Astérix e Obélix e histórias de cowboys e de índios que vinham em livrinhos minúsculos que cabiam na palma da mão e que eu comprava numa lojinha perto da estação ferroviária de Pedras Salgadas quando íamos ao dentista, o Dr. Sérgio.


Eu e o meu irmão chegámos a ir apanhar cogumelos (na minha região chamamos-lhes míscaros) que depois vendemos para comprar livros do Astérix. Mais tarde, descobri o encanto das histórias românticas de amores impossíveis e de paixões eternas e os mistérios de Sherlock Holmes.


Quando começava um livro, não descansava enquanto não o terminava e vivia o mesmo tipo de emoções que vivo hoje em dia quando planeio uma viagem, ou seja, o prazer vinha dividido em três fases: antes da leitura, sentia a ansiedade de abrir e descobrir um novo livro (e o cheirinho é tão bom...); durante a leitura do livro, viajava nas aventuras e ria ou chorava com as personagens; depois de o livro acabar, ainda ficavam as reminiscências daquele conjunto de emoções, e que eram vividas ainda durante muito tempo, sempre que recordava a história -tal e qual como o prazer que uma viagem nos proporciona! Não é por acaso que se diz que ler é viajar.


Esta menina de 48 anos, quase a completar 49, sempre quis ser professora. Muito provavelmente por isso mesmo, aprendeu a amar a leitura e gosta tanto de escrever como de ensinar os seus alunos a escrever e a compreender a beleza da língua portuguesa.


Ainda que me encontre numa nova fase da minha vida, o meu amor pela escrita caminhará sempre de mãos dadas com o amor pelo ensino.

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Lucinda Cunha

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