A Constança é a narradora do capítulo 1 da Caderneta de Cromos (7º ano) e, através do seu relato, já ficamos a conhecer algumas das personagens e a saber porque é que a turma do 7º C é a pior da escola!

😅😅😅

Curioso/a?

😁😁😁

Então, lê o capítulo 1 e diz lá se não há motivos para que os alunos desta turma sejam considerados uns "cromos"!

⚠️⚠️⚠️Atenção⚠️⚠️⚠️

Qualquer semelhança com a realidade (das escolas)

NÃO é pura coincidência!

😉

1


Constança

A minha turma é considerada a pior da escola. Alguns professores são simpáticos, mas a maioria está sempre a dar-nos sermões. Reviram os olhos e suspiram como se fôssemos um caso perdido. Às vezes têm razão. Tenho colegas que não param de conversar, outros passam a aula a olhar pela janela e até há quem adormeça. O professor de TIC diz que devia ser proibido ter a mesma turma dois anos seguidos e que todos têm de colaborar. Já nos conhece desde o 6º ano porque nos dava apoio e agora é nosso professor.


Um dos meus professores preferidos é o Diretor de Turma. Acho que ele gosta de nós e que está sempre a chamar-nos à atenção para o nosso bem. Costuma chamar-nos “cabeçudos”, ou “cabeçudinhos” (que é mais carinhoso) porque somos do 7º C.

C de “Caderneta de Cromos”, na opinião da professora de Moral. É muito fixe! É divertida e conversa connosco quando estamos tristes. É a Monisquinha (linda, fofa eeeeeeee maravilhosa)! A humildade em pessoa, portanto. A stôra diria “realista convicta”. Que lol!


Este ano entraram para a turma cinco alunos repetentes (um deles foi transferido de outra escola porque sofria de bullying). Mais cinco dores de cabeça para o professor de Matemática, como ele costuma dizer. Está sempre aos gritos e toda a gente o ouve quando nos está a dar aulas. É tão fanático pelo Benfica que há dias proibiu o Tomás Leite de entrar na sala de aula com a camisola do Sporting. Teve de correr a escola toda a pedir roupa emprestada e ainda levou falta de pontualidade. O Tomás Leite é um gigante simpático e faz parte do grupo dos cinco repetentes. Fala tão alto que lhe puseram a alcunha de Tasqueiro porque quando abre a boca parece que está atrás de um balcão a servir copos de vinho. Quem lhe pôs o nome foi o Tomás Correia, o TC, como em “Tribunal Constitucional”, que é uma palavra que eu acho difícil de pronunciar.

A professora Monisquinha costuma inventar nomes de acordo com as nossas iniciais. A Bruna Valente, é a “Bombeira Voluntária”, por exemplo.

O DT diz que o TC parece que não parte um prato, mas quebra a louça toda. Quando há confusões, é costume estar lá o dedo dele, à distância. É discreto e sabe falar baixinho. Os professores não o ouvem e depois berram com quem lhe responde, o que eu acho muito injusto.


Uma das minhas melhores amigas é a Mariana, que quer ser modelo. Põe a pasta na mesa para poder desenhar sem que os profes percebam. Não ouve nada do que se passa nas aulas e no primeiro período tem sempre uma série de negativas. As funcionárias da cantina têm de a obrigar a comer a sopa, a fruta e o pão porque anda pálida e muito magra. É linda, mas acha-se feia e gorda. O Tasqueiro gosta dela, mas a Mariana não quer saber dele. Costuma dizer que ele é deficiente, que é a ofensa preferida da turma toda e cabe em qualquer frase.


Uma vez, na aula de Português, a professora estava a explicar o complemento oblíquo e usou a frase “O João chegou da Áustria”, mas o Hélder berrou, a corrigir :


- Austrália! Diz-se Austrália!


- És mesmo deficiente! - disse o Luís. - A Áustria é um país da Europa e a Austrália é da Oceânia!


O Hélder é hiperativo e baixinho. Também é repetente e tem o apetite de um leão. Ninguém entende onde ele guarda tanta comida. A meio de uma aula de História aconteceu uma coisa engraçada com ele. Estava ao lado da Ana Sofia e começaram os dois a discutir. A professora quis saber o que se passava e o Hélder, com uma tremenda lata, disse:


- Quero cantar e ela não deixa!


- És um deficiente! - gritou do fundo da sala o Bártolo.

- Cala-te, Bar-Tolo! És pior que ele! - disse a Ana Filipa.


- Tola és tu, sua parola!


Acho que foi uma das poucas vezes em que a prof. de História, que é casada com um PJ e está sempre a lembrar-nos disso, ficou tão espantada que nem respondeu. Era o último tempo da tarde e estava cansada. Então, limitou-se a suspirar e foi sentar-se na sua secretária enquanto toda a gente se ofendia. Pouco depois, levantou-se, cruzou os braços e ficou assim, parada, a olhar para nós. Quando ela faz isso, já sabemos que é melhor calarmo-nos ou ainda alguém leva uma participação.


Uma vez, estávamos a fazer um trabalho de grupo e o Bártolo pediu para se juntar ao meu. A profe concordou, mas quando o viu pegar numa cadeira, pô-la sobre a cabeça e atravessar a sala toda a dar pontapés às mochilas espalhadas à sua frente, expulsou-o da sala e mandou-o para a biblioteca fazer uma ficha do caderno de atividades. O Bártolo é mesmo deficiente! A mãe, quando vai à escola, até mete pena. Chora e pede desculpa pelo comportamento do filho, mas ela não tem culpa. Ele é que não bate bem. O nome foi mesmo bem escolhido: Bar-Tolo!


O Rui é o aluno que veio transferido de outra escola. No ano anterior fora agredido por um rapaz mais velho que lhe apertou o pescoço com tanta força que ele desmaiou. A partir desse dia, nunca mais foi às aulas e reprovou. Quando o ano letivo terminou, os pais decidiram transferi-lo para a minha escola. Anda sempre vestido de preto, é magro e pálido. Só traz um lápis e um caderno na mochila. Os livros ficam no cacifo e nunca os leva para casa. Mesmo assim, tem melhores notas do que a maioria da turma. Por isso, a profe de Físico-Química diz que em terra de cegos quem tem um olho é rei.


O Rui, o Bártolo e o Carlos, vá-se lá saber porquê, são grandes amigos. O Carlos anda no ginásio porque quer emagrecer e ganhar músculos. É gordinho e anda com roupa larga para disfarçar o pneu. Está sempre a falar do pai, com orgulho. Nota-se que são grandes amigos.


Já eu não posso dizer o mesmo. Os meus pais estão divorciados há três meses porque o meu pai andava a ter um caso com uma rapariga da minha escola. Ela andava no 9º ano e já tinha chumbado três vezes. Vivia com uma família de acolhimento desde pequena porque os pais eram toxicodependentes e estão a cumprir pena por tráfico de droga e homicídio involuntário. Uma vez, aproximou-se de mim e, à frente dos meus colegas, disse-me que lhe podia chamar mãe. Ao princípio não percebi o que ela queria dizer, mas algumas semanas depois, de madrugada, ouvi uma discussão entre os meus pais . Sem fazer barulho, fiquei à porta do quarto deles a tentar ouvir a conversa. A minha mãe chorava e só dizia que se sentia envergonhada por estar casada com um pedófilo. Voltei para o meu quarto, pus os auscultadores nos ouvidos com a música alta e chorei até adormecer.


No dia seguinte, quando me levantei para ir para a escola, o meu pai já não estava em casa. Saiu sem se despedir de mim. A Vânia também nunca mais voltou à escola. Parece que está grávida do meu pai e que agora moram em França. Tenho visto os vídeos que publicam no TikTok e a Vânia está com uma barriga enorme. Exibem-se com orgulho e dizem que o amor não escolhe idades.


Por falar no TikTok, as Três Marias, que é como a professora de Moral chama à Ana Luísa, à Ana Sofia e à Ana Filipa porque andam sempre juntas, passam os intervalos a ensaiar coreografias. O TC gosta de se colocar atrás delas e estragar tudo, o que as deixa enfurecidas. Correm atrás dele e querem bater-lhe, mas raramente o apanham porque ele é muito rápido. Uma vez, elas foram suspensas durante dois dias porque publicaram um vídeo no TikTok com cenas filmadas em sala de aula e nos corredores. No vídeo via-se a professora de EV a desenhar no quadro, um funcionário a tentar acertar com uma vassoura no Rúben, do 7º B, o Carlos a dormir no meio da aula e outras cenas que o Diretor não perdoou. Também não perdoou ao Tomás Leite quando ele começou a vender coisas usadas, que tinha no quarto, aos alunos do 2º ciclo. Obrigou-o a devolver o dinheiro todo. Ficou sem as coisas e sem o dinheiro para aprender a não fazer outra.


Os pais das três Marias foram chamados ao gabinete do Diretor. As mães da Luísa e da Sofia pediram desculpas e saíram do gabinete envergonhadas e de cabeça baixa, mas o pai da Filipa desatou aos berros, a dizer que ia a um advogado e que ia pôr o Diretor em tribunal. Isto aconteceu nas primeiras semanas de aulas. Nessa altura, ainda não sabíamos que a Filipa seria transferida de escola no final do ano porque, segundo o pai, a turma “estava a estragá-la”, mas era ela que, muitas vezes, estragava tudo. Para mim, a sua saída foi um alívio. Chamava-me gorda e ria-se do meu penteado.


O meu professor preferido é o de Geografia, que é também o nosso DT. Deixa-nos pegar no telemóvel para resolvermos os exercícios e diz umas piadas giras. Normalmente, é irónico e só um terço da turma percebe as piadas. Outro terço entende quando um colega lhas explica e o resto nunca percebe nada.


Numa aula qualquer, estávamos a falar sobre atividades económicas e o professor colocou uma questão. Antes, avisou que teríamos de levantar o braço para responder. Quatro ou cinco alunos desataram a falar alto e a responder ao mesmo tempo. A confusão foi tal que ninguém entendeu nada. Foi aí que o professor interrompeu:


- Na Eslovénia, dizer “responde um de cada vez e com o braço no ar”, significa “podem falar todos ao mesmo tempo”, mas em Portugal não!


O Carlos, que tinha acabado de acordar, saiu-se com esta pergunta:


- O professor sabe falar eslovaco?


Nós achámos muita graça e até o professor se riu. Só parou quando a Bombeira Voluntária lhe chamou deficiente.


- Tu também não sabias como se escreve a palavra “botões”! - defendeu-se o Carlos.


- É anafabética! - berrou o Tasqueiro.


- Se vocês não existissem, tinham de ser inventados! - riu-se o professor.


Quando a aula acabou, o profe marcou um TPC invulgar: pesquisar várias palavras no dicionário. Não achei correto porque não estávamos na aula de Português, mas pronto!

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Lucinda Cunha

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