\"As irmãs de Auschwitz\", de Rena Kornreich Gelissen (com Heather Dune Macadam)

O livro As irmãs de Auschwitz começa por partilhar com o leitor como Rena contactou Heather para que esta escrevesse a sua terrível história no campo de concentração de Auschwitz (os alemães referiam-se-lhe como campo de trabalho) 50 anos depois da libertação. Deparamo-nos com uma velha senhora, tranquila, com um coração pacificado e sem qualquer rancor, inclusive dos seus captores.


A narração vai saltando de uma narradora autodiegética, que é a protagonista desta história escrita-parcialmente- em primeira pessoa, e uma narradora heterodiegética, uma escritora contratada para escrever a história de Rena que, durante cinco décadas, a foi alinhavando na cabeça até sentir que estava preparada para perpetuar, através de um livro, o testemunho das suas vivências. Assim, Heather vai intercalando as memórias de Rena com os diálogos trocados no presente.


Rena Gelissen fez parte do primeiro comboio que levou mulheres para Auschwitz (mais concretamente 998), apertadas como animais e sem quaisquer condições sanitárias. A sua irmã mais nova, Danka, também é enviada para o mesmo campo, pouco tempo depois, e é a necessidade de proteger a irmã que faz com que Rena sobreviva, durante 3 anos, às provações a que milhares de mulheres e homens foram sujeitos durante a II Guerra Mundial nos campos de concentração: fome, sede, frio, falta de higiene, doenças, sovas constantes, pragas de piolhos e percevejos... Além de tudo isto, havia seleções periódicas sempre que o campo estava sobrelotado e durante as quais as SS separavam as raparigas que ainda tinham forças para trabalhar das que, consideradas inúteis ou doentes, eram enviadas para as câmaras de gás. Isto tudo sem esquecer o despotismo dos soldados nazis que não necessitavam de motivos para assassinar um prisioneiro das formas mais cruéis (um dos relatos mais surpreendente e chocante é o da morte de uma rapariga a quem uma mulher das SS atiçou um cão, sem qualquer razão, enquanto as outras assistiam com horror).


O discurso em primeira pessoa mostra-nos, com um realismo doloroso, as minúsculas doses de comida, as camas improvisadas, os castigos, o medo paralisante, o trabalho escravo e a violência gratuita a que as “raparigas mulheres” eram sujeitas. Hoje conclui-se que o alvo preferido dos nazis foram as mulheres porque são elas que podem gerar vida dentro de si e o objetivo era exterminar todos os judeus.


Rena tudo fez para sobreviver, não por ela, mas porque não queria perder a irmã, que ela sabia ser mais frágil. Apesar de todo o sofrimento, Rena revelou uma coragem extraordinária e uma enorme vontade de viver. É pelas suas palavras que percebemos que, até num sítio degradante como Auschwitz, onde se sentia o cheiro da morte no ar, a esperança é mesmo a última a morrer e que há lugar para o sentimento amoroso (as mulheres podiam- secretamente- trocar bilhetes e conversar com os homens que estavam do outro lado da vedação). Em qualquer sítio há espaço suficiente para o amor.


O conforto que sentimos durante a leitura deste livro é que, à partida, sabemos que Rena e Danka sobreviveram a todas as provações e tiveram uma vida longa (Rena faleceu com 85 anos e Danka com 90). Não deixa de ser curioso que a irmã mais frágil tenha sobrevivido à mais forte.


As irmãs de Auschwitz é uma homenagem a todas as mulheres - irmãs, primas, amigas - que foram enviadas, como gado para o matadouro, em comboios de carga, para campos de concentração, e que só sobreviveram porque se apoiaram umas às outras.

Danka sobreviveu graças a Rena ou foi Rena que conseguiu sobreviver porque Danka estava consigo?


Os jovens devem ler este livro? Sem dúvida!

Para que saibam o que aconteceu,

como aconteceu e,

acima de tudo,

para que nunca mais se repita!


Já leste este livro? Se leste, ou ficaste com vontade de ler, deixa o teu comentário! :-)



Lucinda Cunha

Sou escritora e também professora!

Amo escrever e ensinar!


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