A que sabe o amor?

O amor, para mim, tem sabor de pão com manteiga e açúcar.


Tenho poucas memórias da minha infância, mas uma das mais antigas - e preferidas - envolve a D. Lurdes e a família.❤️

É uma lembrança mais antiga do que a do Sr. Manuel Alfaiate a furar-me as orelhas com uma agulha de costura. Só conseguiu furar uma porque, quando quis fazer o mesmo à segunda, desatei a correr à volta da mesa da sala e nunca mais me apanhou!


A D. Lurdes era nossa vizinha, em Campo de Jales (Vila Pouca de Aguiar) e, quando eu tinha uns 3 anos, no máximo, escapulia-me para casa dela porque me davam pão com manteiga e açúcar. Quando eu “desaparecia”, a minha mãe já sabia onde eu estava: na casa da D. Lurdes a comer pão com manteiga e açúcar.

Não era fome, era vontade de comer!😊


Ainda hoje, quando encontro as filhas, me perguntam pelo "pão com manteiga e açúcar". Mal elas sabem como sou grata por essa memória de infância.


Esta confidência leva o caro leitor a uma reflexão: “ai, os dentes!”.


Porém, o que me ficou na memória foi este gesto de me aconchegarem o coração (mais do que o estômago) com uma atitude tão singela e que hoje será considerada irresponsável.


A prova de que me sentia segura e acarinhada por aquela família é que me lembro bem de, certo dia, me refugiar na casa da D. Lurdes enquanto os meus pais matavam o porco. Quem já assistiu à matança tradicional do porco sabe como os guinchos são estridentes e difíceis de suportar. O animal guinchava de tal maneira, que eu fugi para casa daqueles vizinhos que me acarinhavam e davam pão com manteiga e açúcar e aguardei, com as mãos nas orelhas, que o sofrimento - meu e do porco - terminasse.


Sim, o amor tem sabor e não apenas a pão com manteiga e açúcar; tem também sabor a batatas fritas de pacote, que o meu pai trazia ao domingo quando ia ao futebol, e que eu e o meu irmão aguardávamos com ansiedade; sabe a bombocas trazidas da Suíça, bem acomodadas numa enorme mala de 9 meses de separação; sabe a bolo de manteiga que a minha mãe faz sempre que vamos visitá-la; tem sabor de vitela assada com batatinhas com casca que o Sr. Cunha cultiva todos os anos; tem sabor a caipirinha anual, que bebo em casa da minha prima Carla; tem sabor a pipocas que faço quando vejo um filme com os meus filhos; tem sabor a gelado de caramelo partilhado com quem amo...


São tantos os sabores do amor!


Para ti, a que sabe o amor?



Lucinda Cunha

Sou escritora e também professora!

Amo escrever e ensinar!


Acompanha-me!


Facebook

Instagram

Linkedin

SOBRE

Sou escritora e também professora. Amo escrever e ensinar!

INSCREVO-ME

Queres receber notícias!

© Lucinda Cunha